A governança participativa, um conceito central na teoria política contemporânea, encontra ressonância em diversas passagens bíblicas que destacam princípios de inclusão, delegação de autoridade e busca por conselhos sábios. Neste texto, vamos explorar um pouco o conceito de governança participativa a luz de teóricos como Peters, Brugué, Speer, Mayntz, Kisller e Heidemann, enquanto analisamos as passagens bíblicas de Êxodo 18, Provérbios 14:11 e 11:14, Lucas 6:17 e Marcos 3:13-19.
Governança Participativa na Perspectiva Teórica:
Peters (2005) destaca a importância da participação cidadã e da descentralização do poder na governança participativa, enfatizando a necessidade de envolver os cidadãos nos processos de tomada de decisão política. Brugué (2011) complementa essa visão ao ressaltar que a governança participativa promove a inclusão de grupos marginalizados e a diversidade de perspectivas, contribuindo para uma governança mais legítima e eficaz. Já Speer (2012) destaca a importância da transparência e da prestação de contas na governança participativa, garantindo que os líderes sejam responsáveis perante os cidadãos. Em Mayntz (2000) encontramos o seguinte argumento, que a governança participativa não se limita apenas à esfera política formal, mas também engloba redes de governança que envolvem atores públicos e privados na resolução de problemas complexos. Autores como Kisller e Heidemann (2006) expandem essa idéia, e discutem a importância da colaboração entre diferentes níveis de governo e da sociedade civil para promover uma governança mais adaptativa e resiliente.
Análise das Passagens Bíblicas:
A passagem de Êxodo 18 apresenta o conselho sábio de Jetro a Moisés sobre a delegação de responsabilidades. Moisés é instruído a nomear líderes capazes e íntegros para ajudá-lo a administrar o povo de Israel. Isso destaca a importância da descentralização do poder e da colaboração na tomada de decisões, princípios essenciais da governança participativa, defendida em Peters ( 2005 ). Ao distribuir autoridade e confiar na sabedoria coletiva, as comunidades podem prosperar e alcançar um governo mais justo e eficaz. Os provérbios bíblicos ressaltam a importância da confiança e da busca por conselhos sábios na governança. Provérbios 14:11 nos lembra que a casa do ímpio está destinada à destruição, enquanto a tenda do justo florescerá. Isso sugere que a integridade e a justiça são fundamentais para a estabilidade e a prosperidade de uma sociedade. Já Provérbios 11:14 destaca a importância dos conselhos sábios e da orientação coletiva na tomada de decisões. Na governança participativa, a confiança mútua entre governantes e governados e a busca por conselhos diversos e inclusivos são essenciais para uma liderança eficaz e responsável. Esses temas possuem ressonância com as idéias de Brugué 2011 e Speer 2012 sobre inclusão e transparência na governança participativa.
Lucas 6:17 e Marcos 3:13-19: Inclusão e Capacitação: As passagens de Lucas 6:17 e Marcos 3:13-19 destacam a inclusão e a capacitação dos discípulos por parte de Jesus. Ele não apenas os chama para segui-lo, mas também os envia para pregar, curar e libertar. Isso ilustra a natureza participativa e capacitadora de seu ministério. Da mesma forma, na governança participativa, é crucial incluir todas as vozes da sociedade no processo decisório e capacitar os cidadãos a participarem ativamente na construção de seu próprio destino, deixam de serem meros consumidores para se tornarem protagonistas das políticas públicas. Quando todos têm a oportunidade de contribuir e serem ouvidos, a democracia se fortalece e os valores de justiça e equidade são promovidos. Nessa passagems percebemos a importância de envolver diversos atores na tomada de decisão, conforme defendido por Mayntz 2000 e Kisller e Heidemann 2006.
À luz das passagens bíblicas analisadas, conjuntamente com a Teoria Política Contemporânea fica claro que a governança participativa reflete valores fundamentais da fé cristã, como delegação responsável, busca por conselhos sábios, confiança mútua, inclusão e capacitação. Essa pequena análise interdisciplinar busca trazer à reflexão que Fé e Política se misturam ou se completam, mais do que imaginávamos. Que possamos continuar a buscar orientação tanto nas Escrituras quanto nos princípios democráticos para moldar um mundo mais alinhado com os valores do Reino de Deus.
BIBLIOGRAFIA
Biblia Cristã versão ARA
BRUGUÉ, Quim. Recuperar la política desde la deliberación. Revista Internacional de Organizaciones, Tarragona, Espanha, n. 7, p. 157-74, dez. 2011.
KISSLER, Leo; HEIDEMAN, Francisco G. Governança pública: novo modelo regulatório para as relações entre o Estado, mercado e sociedade? Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 3, p. 479-99, maio/jun. 2006.
MAYNTZ, Renate. Nuevos desafíos de la teoría de ‘governance’. Instituciones y Desarrollo, n. 7, p. 35-52, 2000. Disponível em: http://www.iigov/revista/revista7/docs/mayntz.htm. » http://www.iigov/revista/revista7/docs/mayntz.htm
SPEER, Johanna. Participatory Governance Reform: a good strategy for increasing government responsiveness and improving public services? World Development, v. 40, n. 12, p. 2379-98, dez. 2012.